As Aventuras de Gino - Dos Faraós ao Faroeste

A saída do Egito

O Egito de Gamal Abdel Nasser tomou o controle do Canal de Suez, desencadeando uma guerra que precipitou o fim da antiga Europa colonial. Egito e França compartilhavam os direitos de propriedade do Canal de Suez, mas, num desafio à Grã-Bretanha e à França, o presidente egípcio anunciou a nacionalização do mesmo em 26 de julho de 1956, um feito que marcou a história do Egito e região. "A pobreza não é uma vergonha, e sim a exploração dos povos. Resgatamos os nossos direitos porque este canal é propriedade do Egito", afirmou Nasser em um discurso histórico na Alexandria.

Gamal Abdel Nasser - Alexandria, 15/01/1918 - Cairo, 28/09/1970 -

Militar, presitente egípcio de 1954 até sua morte.

Este é o grande motivo da Família Italiana CALORIO ter que partir do Egito.

Escolheram, então, o Brasil como destino, pois as oportunidades de emprego, principalmente por causa da construção de Brasília, eram grandes.

Primeiro, vieram os irmãos Gino e Domenico, depois viriam seus pais. Embarcaram no dia 31 de dezembro de 1956 com 20 libras no bolso, o valor máximo permitido.

Primeira parada foi em Bari (Itália), onde pegaram um trem para Nápoles. Logo na chegada, um policial se apresentou para guiá-los até o Centro de Emigração, pois a viagem seria por questões políticas.

A entrada no Brasil foi feita pela Lei nº 10 – Entrada por questões políticas – com a decisão de Nasser, Gino Calorio havia perdido o visto permanente no Egito.

Ainda nos 10 primeiros dias de janeiro de 1957, embarcaram no navio que os trariam para Terra Prometida, o Brasil. Mas antes fizeram escalas em Marselha, Barcelona, Dakar.

Chegaram na madrugada do dia 06 de fevereiro, no Rio de Janeiro, onde admiraram o Cristo Redentor e a grande movimentação aérea no Aeroporto Santos Dumont.

Logo pela manhã, foi realizado o desembarque internacional. No mesmo dia, seguiram para desembarque definitivo no porto de Santos em São Paulo. Por terem viajado juntos com refugiados Húngaros que estavam sendo perseguidos pelos Russos, ao desembarcarem em Santos, foram escoltados pelo exército até a cidade de São Paulo.

Na capital Paulista, ficaram na Hospedaria dos Imigrantes, onde causaram um rebuliço por não aceitarem comer em pratos de alumínio, já que, ao contrário dos demais imigrantes, eram, praticamente, refugiados políticos. Prontamente foram atendidos e conseguiram ser servidos em pratos de louças.

O Memorial do Imigrante ocupa apenas uma parte do complexo da antiga Hospedaria de Imigrantes, que foi construída entre 1886 e 1888. O conjunto arquitetônico, inclui parte do prédio central da antiga hospedaria, jardins, estação e ramal ferroviários, onde os imigrantes desembarcavam na sua chegada à cidade de São Paulo.

Logo arrumaram emprego, mas o Cônsul Geral convenceu o irmão mais velho, Domenico, a procurar melhores oportunidades no OESTE, mais especificamente em Cuiabá. Para não descumprirem a promessa que fizeram aos pais, de não se separarem, partiram juntos por uma aventura tupiniquim.

Deixaram São Paulo, cada um com uma bola de mortadela e pão, para enfrentarem uma longa viagem rumo ao Oeste. Com a Viação Sorocabana, foram até Bauru, onde acreditavam que haveria um trem que os levariam diretamente até Cuiabá. Este trem nunca existiu.

Bem, estavam um tanto quanto enrolados, pois tinham pouco dinheiro, mas Gino havia aprendido um pouco de Português em livros durante a viagem de navio e, fazendo um esforço, conseguiram do Diretor da Estação de Bauru passagens até Corumbá, pela linha férrea Noroeste, além de uma carta de recomendação para tentarem conseguir naquela cidade um transporte aéreo ou fluvial até Cuiabá.

Após algum tempo de viagem, o trem parou. O motivo era que um homem havia jogado outro pela janela. Pouco depois, parou novamente, para que os passageiros chupassem laranjas de uma fazenda. Depois, pararam em uma estação escura, onde um homem negro, com chapéu e roupa preta, estava armado, o que causou estrannhesa. Enfim, pararam em uma estação onde mulheres fritavam peixe na beira de um rio. DOS FARAÓS PARA O FAROESTE.

Antiga Estação em Bauru SP



Trem do Pantanal

Chegaram em Corumbá num sábado de carnaval, pediram ao taxista que os levassem a um hotel limpo e barato, mas não foram completamente atendidos... A coisa era uma espelunca e suas bolas  de mortadela foram devoradas por ratazanas enormes que haviam no quarto.

Com a carta de recomendação nas mãos, foram procurar transporte na Bacia do Prata, mas o barco somente sairia na quarta-feira de cinzas e a empresa aérea não considerou a recomendação de ajuda. Então, foram procurar o Diretor da Escola dos Salesianos, para pedir ajuda, pois haviam sido estudantes Salesianos em Alexandria no Egito. Fizeram a seguinte proposta ao padre salesiano: "Deixamos como penhor malas e pedimos em troca passagens aéreas". O padre aceitou, pegou um jipe e os embarcou no vôo para Cuiabá.

Em 1899, chegavam por via fluvial os primeiros Salesianos em Corumbá, com a finalidade de fundarem um colégio, nos princípios educacionais salesianos.